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Envelhecer
tem muitas vantagens. Mas, muitas vezes, sem aviso prévio, bate aquela
tristeza por estar sozinho, receio de morrer sozinho ou de não pertencer
mais a esse mundo tal como ele se apresenta na atualidade. E o que
poderia ser encarado como um medo, uma ansiedade normal, acabar virando
um transtorno, o transtorno do pânico, também conhecido como síndrome do
pânico - que na população idosa tem algumas características
particulares.
“O envelhecimento e a sensação de impotência em relação ao que não
dominamos podem ser gatilhos poderosos. A sociedade exige um nível de
atualização que as pessoas mais velhas podem não conseguir acompanhar.
Um exemplo é o emprego da tecnologia. Aparelhos eletrônicos estão por
todos os lados. Em portas de bancos, em caixas eletrônicos, sistemas de
pagamento e meios de comunicação. As pessoas mais velhas sentem-se
intimidadas e impotentes diante de tantas regras novas.
Quando começam a se adaptar, os aparelhos e as regras mudam, o que
dá a sensação de não conseguirem acompanhar os mais jovens e de estarem
'ficando pra trás', explica Alexandre Caprio, psicólogo
cognitivo-comportamental.
Para Ururahy Barroso, médico psiquiatra e psicoterapeuta, a Síndrome
do Pânico pode se manifestar após os 60 anos por diversos motivos.
“Pode ser porque, durante a vida, a pessoa esteve envolvida com
muitos fatores externos e, a partir de uma certa idade, ela começa a se
voltar mais para si mesma. Sem contar que a partir dos 60 anos ocorrem
muitas perdas e algumas pessoas não estão educadas emocionalmente ou têm
inteligência emocional baixa, apesar da idade, para lidar com perdas,
frustrações, conflitos, aflições, adversidades e contrariedades, que são
as maiores fontes de transtornos emocionais”, diz.
“O Transtorno do Pânico é caracterizado por ataques recorrentes e
imprevisíveis de ansiedade grave, em circunstâncias diversas, sem que
haja riscos ou perigos reais. Dores no peito, taquicardia,
formigamentos, tonturas, tremores, náuseas, sensação de morte iminente,
em geral por ataque cardíaco, medo crescente de perder o controle e de
enlouquecer são sintomas comuns”, explica Maria Lúcia Madureira,
psicóloga e especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental.
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O que é a Síndrome do Pânico?
A Síndrome do Pânico, na
linguagem psiquiátrica chamada de transtorno de pânico, é uma
enfermidade que se caracteriza por crises absolutamente inesperadas de
medo e desespero. De acordo com Ururahy Barroso, todo transtorno
emocional ou comportamental é uma comunicação do espírito, da alma, do
estado de infelicidade que a pessoa se encontra.
“A abordagem
tem que começar do núcleo, para resolver definitivamente, caso
contrário, a pessoa vai ficar tendo crises repetitivas e tomando remédio
para sempre. O tratamento que resolve consiste muito mais do que apenas
controlar os ataques de pânico, mas em agir sobre as causas de
infelicidade e fazer a manutenção através de habilidades apreendidas na
psicoterapia, evitando e desconstruindo as vulnerabilidades emocionais”,
diz.
Ainda de acordo com o especialista, a Síndrome de Pânico
manifestada através dos ataques de pânico são sintomas de intensa e
prolongada ansiedade, de início súbito, onde o cérebro reage como se
estivesse diante de uma catástrofe iminente.
“Tudo começa com um
disparo inicial de ansiedade, como um alerta de perigo, que faz a
pessoa sentir como se estivesse fora do controle. Nesse momento é que a
crise é mantida, pois a pessoa começa a ter diálogo interno de
desespero, e isso cria um círculo vicioso entre os pensamentos e as
sensações”, diz.
Como tratar
O primeiro passo é
a informação. O ataque é causado, basicamente, pela sensação de
impotência, de incompreensão em relação ao que está acontecendo dentro
de si mesmo. Saber que é um mecanismo de defesa e entender porque o
coração e respiração aceleram, assim como as verdadeiras causas da
tontura, náusea, transpiração e outros sintomas, é um grande passo.
“É
como acender a luz de uma sala onde, antes, a escuridão e o
desconhecimento pareciam tão ameaçadores”, diz o psicólogo Alexandre
Caprio. Ainda de acordo com Caprio, a Terapia Cognitivo-comportamental
tem alto grau de eficácia nesse processo. “O paciente aprende a respeito
de si mesmo e percebe que o Ataque de Pânico não se sustenta sozinho.
Compreender que nosso corpo está apenas tentando nos proteger de um
estímulo aversivo também destrói uma boa parte da tensão”, explica.
Mas
esse é só o começo do trabalho, alerta o psicólogo: o verdadeiro vilão
ainda está escondido. “São as crenças e os pensamentos que transmitem a
ordem de ameaça ao cérebro e organismo. O processo terapêutico tem como
objetivo identificar as crenças que levam o indivíduo a ter medo das
coisas que acontecem em sua rotina e confirmar sua autenticidade. Em
resumo, o paciente revisa seu ponto de vista em relação a si mesmo e ao
mundo em vez de continuar dando crédito a seus erros cognitivos”, diz.
Sem
a ordem de ameaça, continua Caprio, o corpo se desarma, e o transtorno
passa a ser controlado. “Tanto em terapia como fora dela, técnicas de
relaxamento são indicadas. Mas o relaxamento não funciona se o
pensamento causador de todo o mal não for confrontado. Mesmo assim, se o
ataque começar, o indivíduo ainda pode bloqueá-lo desacelerando a
respiração. A sensação de estar sufocando torna essa tarefa
relativamente difícil, mas não impossível. Se a entrada de oxigênio for
controlada, as funções do corpo são restabelecidas vagarosamente, e os
efeitos principais passam.”
Os 8 passos para se acalmar
A psicóloga e especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental, Mara Lucia Madureira, lembra de oito passos para lidar com a ansiedade. “A chave para lidar com um estado de ansiedade é aceitá-la totalmente. Permanecer no presente e aceitar sua ansiedade a faz desaparecer. Para lidar com sucesso com a ansiedade, você pode utilizar a estratégia “A.C.A.L.M.E-S.E.”, de oito passos. Usando-a, você estará apto a aceitar sua ansiedade até que ela desapareça”, explica
::
1 - Aceite sua ansiedade. Um dicionário define aceitar como dar
“consentimento em receber”. Mesmo sem gostar muito, dê-lhe boas vindas
como você daria a um hóspede inesperado e desconhecido. Não lute contra
ela. Substitua seu medo, raiva e rejeição por aceitação
::
2 - Contemple sua ansiedade. Olhe para ela sem julgamento: nem boa nem
má. Apenas observe-a e avalie-a em uma escala de 0 a 10. Observe-a
aumentar e diminuir
:: 3 - Aja com sua ansiedade.
Normalize a situação. Aja como se você não estivesse ansioso, isto é,
funcione com ela. Diminua o ritmo, a velocidade com que faz suas coisas,
mas mantenha-se ativo!
:: 4 - Libere o ar de seus pulmões
bem devagar! Respire calmamente, inspirando pouco ar pelo nariz e
expirando longa e suavemente pela boca. Não sopre, apenas exale o ar
lentamente
:: 5 - Mantenha a atitude e os passos
anteriores. Repita os passos um a um. Continue a: 1) aceitar sua
ansiedade; 2) contemplá-la; 3) agir com ela, e 4) respirar calma e
suavemente, até que a ansiedade diminua e atinja um nível confortável
::
6 - Examine seus pensamentos. Você deve estar antecipando coisas
catastróficas. Você sabe que elas não acontecem. Examine o que está
dizendo e pondere para ver se pode ser verdade
:: 7 -
Sorria, você conseguiu. Merece todo o crédito e todo o reconhecimento.
Conseguiu sozinho com seus próprios recursos. Não é uma vitória, pois
não havia um inimigo, apenas um visitante de hábitos estranhos que você
passou a compreender e aceitar. Agora saberá como lidar com visitantes
estranhos
:: 8 - Espere o melhor. Livre-se do pensamento
mágico de que você terá se livrado definitivamente de sua ansiedade,
para sempre. Ela é necessária para você viver e continuar vivo. Em vez
disso, surpreenda-se pelo jeito como você a maneja, como acabou de
fazer. Esperando ansiedades no futuro, você estará em uma boa posição
para lidar com ela novamente
Fonte: Estratégias
cognitivo-comportamentais para lidar com a ansiedade (Beck, Emery &
Greenberg). Adaptação de Bernard Rangé (1985)
"Eu tinha de dois a três ataques por semana"
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“É uma sensação simplesmente horrível. Comecei a ter quando viajava com
meu marido para visitar familiares. Durante a viagem, meu coração
acelerava do nada e me dava uma falta de ar muito grande. A impressão é
de que você vai morrer. Tudo que você mais quer é que não aconteça de
novo. Mas passei a ter as mesmas sensações quando ia fazer compras, no
banco ou pagar uma conta na lotérica.
Antes era só quando
viajávamos, mas depois passou a acontecer em todos os lugares. Sempre o
mesmo medo: medo de cair na rua e ninguém me socorrer. Em casa,
principalmente quando ficava sozinha, também tinha medo de morrer e não
ter ninguém por perto para me ajudar. Passei a ter entre dois e três
ataques por semana, e vivia à base de remédios.
Então, um médico
indicou a terapia e, nela, aprendi que o medo de ter o ataque acaba
levando ao ataque. Quando aprendi porque ele realmente acontecia e mudei
minha forma de pensar, melhorou muito. Ainda estou em tratamento, mas
já não tenho crises há mais de três meses”
M.A.S, 58 anos |
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