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quarta-feira, 25 de junho de 2014

Participação de Alexandre Caprio na matéria "Menino Bernardo gera dúvidas entre pedagogos", do Jornal Diário da Região, publicação em 25/06/14, jornalista Juliana Ribeiro

http://www.diarioweb.com.br/novoportal/Divirtase/Comportamento/192820,,Lei+Menino+Bernardo+gera+duvidas+entre+pedagogos+.aspx

Comportamento
› Bater, educa?
São José do Rio Preto, 25 de Junho, 2014 - 1:44
Lei Menino Bernardo gera dúvidas entre pedagogos

Juliana Ribeiro

Stock Images/Divulgação
Lei Menino Bernardo, aprovada neste mês pelo Senado

No último dia 4 de junho, o Senado aprovou a chamada Lei Menino Bernardo, antes chamada Lei da Palmada (PLC 58/2014), projeto que inclui dispositivos no Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (Lei 8.069/90), para garantir o direito da criança e do adolescente de serem educados sem o uso de castigos físicos ou de tratamento cruel ou degradante. No entanto, a legislação por si só não altera o comportamento dos cuidadores.

Assim que a lei foi aprovada, muitas questões surgiram, como: quais serão as punições aos pais que continuarem a usar a força física na educação de seus filhos? Os pais que baterem nos filhos poderão ser presos? Como fazer para impor limites sem usar os "tapinhas educativos"?

Educar não é uma tarefa fácil. Muitas vezes, o modo de se expressar das crianças pode ser confundido com mau comportamento ou manha. Portanto, entender o processo de desenvolvimento delas é importante para promover uma mudança na cultura de castigo como forma de educar.

Os norte-americanos sabem bem disso, e chamam o período entre um ano e meio a 3 anos de idade de “terrible twos”, quando os bebês passam a engatinhar e andar, iniciam o processo de fala e construção de frases e tentam impor suas vontades e desejos.

Nessa idade, também são comuns os momentos em que as crianças ficam agitadas, gritam, se jogam no chão, choram, lançam objetos ou agridem quem estiver por perto. E é nessa hora que alguns pais perdem a paciência e apelam para a tal “palmada pedagógica”. Mas, afinal, “palmada pedagógica” existe?

Para Larissa Fonseca, pedagoga e psicopedagoga, apesar das “palmadinhas” parecerem inofensivas, elas podem trazer consequência negativa à criança. “Bater dói, e essa dor não é apenas física, ela torna-se emocional. Na medida em que você ensina seu filho que bater é um modo aceitável de se resolver conflitos ou lidar com frustrações, é assim que ele vai aprender a lidar com essas situações.

Além disso, é um método bastante desigual de tentar ensinar, afinal, hoje a mamãe ou o papai batem porque são mais fortes, e é só por essa razão que usam sua maior força. Mas, e amanhã, quando essa situação se inverter? Como explicar para o filho que agressão física não funciona?”, questiona.


‘Já bati; hoje, prefiro conversar’

Apesar do nome, o texto da lei não é claro. Não fala em palmada, nem em tapinha. E alguns pais se questionam se o que a lei trata como violência é um espancamento ou uma palmadinha. A psicóloga Penélope Ximenes defende que uma palmadinha de vez em quando não faz mal. “‘Eu apanho todo dia’ é complicado. ‘Eu raramente levo uma palmadinha’ faz parte”, argumenta.

A apresentadora Xuxa Meneghel é uma das defensoras da “Lei Menino Bernardo”, e em diversas entrevistas afirmou que a lei não é para dificultar a educação, mas para impedir o uso de violência contra menores de idade.

Em entrevistas, Xuxa diz que muitas pessoas perguntam se quem der palmada em uma criança vai para a prisão, por conta da nova lei. "Não, de maneira nenhuma. É só para mostrar que as pessoas podem ensinar a criança sem usar violência. É só isso que a gente está pedindo, e é isso que a lei faz”, declarou.

Mãe de quatro filhos, entre crianças e adolescentes, a artesã Maria Clara Barbosa, de 50 anos, conta que em sua casa o diálogo prevalece, mas algumas vezes os filhos já levaram palmadas para entrar na linha.

“Prefiro sempre conversar com eles, mas é necessário assumir que já usei uma vez ou outra a 'palmada pedagógica', não vou dizer que funcionou a longo prazo, mas no momento surtiu efeito”, admite.

Hoje, Maria Clara prefere esperar o nervoso passar para sentar e conversar com eles. “Muitas vezes, quando começam a brigar, eu pego e deixo eles fechados em um quatro. Muitas vezes, escuto que continuam brigando, mas enquanto eles não se acalmam e não tentam se entender não podem sair dali.

Aqui em casa é proibido gritar dizendo que odeia o irmão, eles sabem que o amor de irmão é único e verdadeiro. Então, ficam dentro de um quarto sozinhos. Quando volto, uns 30 muitos depois, eles já estão brincando e nem lembram como a briga começou. É só aí que eu sento e converso com eles.”


O que educa é o exemplo

Criança precisa de limites, e limites claros, “capazes de fazer a criança se sentir mais feliz e segura, e isso só é possível com diálogo”, diz Michelle Rossi, psicóloga e psicopedagoga clínica e institucional.

Para ela, os pais devem ter consciência de que o exemplo é a melhor forma de educar, pois a criança repete um modelo de alguém com quem se identifique. “Tapas podem geram um clima de medo, insegurança e raiva nessa criança e adolescente”, diz Michelle.

Alguns fatores são determinantes quando se busca educar uma criança corretamente. “Em primeiro lugar, precisam conviver num ambiente que reforcem bons exemplos, um ambiente seguro e acolhedor, onde prevaleça o respeito entre os membros da família.

E pais participativos na vida dessa criança, demonstrando carinho, atenção e, principalmente, que não esqueçam que educar dá trabalho e requer paciência e dedicação”, diz.

É preciso sempre explicar para as crianças as ações e, em seguida, ser firme nas decisões. “Se seu filho fizer birra, jogar-se no chão, quebrar algo em uma crise de raiva, basta você abaixar à altura dele, e conversar firmemente, olhando nos olhos, explicando sua reprovação.”

É importante também não dar o que os especialistas chamam de “atenção negativa” (dar atenção para a criança só quando ela age de modo inadequado. “Para a criança, ouvir gritos e receber broncas é também considerado uma forma de atenção”, informa a pedagoga Larissa Fonseca. 
Stock Images/Divulgação
Bom senso e respeito devem prevalecer acima de qualquer polêmica

Lei fala de tudo, menos de palmada

Para Cristiane Bertucci Nicoleti, psicóloga clínica e gestalt terapeuta, o que a lei Menino Bernardo vem mostrando é o processo de proteção à criança e ao adolescente. “Como dizem alguns advogados: a lei não acrescentou muito, pois continua subjetiva, atrelada ao que já existia, que era a proteção à integridade física da criança e do adolescente, mas em nenhum momento fala da 'palmada' propriamente dita.”

Segundo Cristiane, o bom senso deve prevalecer em todas as situações. “Para impor limites, não há necessidade de palmadas, pais firmes e posturas adequadas já estabelecem os limites”, orienta.

Alexandre Caprio, psicólogo cognitivo comportamental, pertence ao Conselho Municipal da Criança e Adolescente. “Já temos definido no Estatuto da Criança e Adolescente que a agressão verbal e psicológica não podem acontecer. Mesmo assim, acontece. Não vejo onde a nova lei pode ser eficaz, já que as que já temos não são cumpridas.

É mais uma lei de papel, como tantas outras diariamente desrespeitadas no nosso dia a dia”, diz.Caprio ainda reforça que não é possível promulgar uma lei ordenando que o ignorante não seja ignorante. “Seria fácil, não seria? Lei determinando que todos sejam felizes, ou determinando que ninguém mais morra (essa última já foi decretada por um prefeito lá da Europa, não me lembro qual).

Dizer a um pai que ele não bata mais em um filho é insinuar que ele tem habilidades diferentes para lidar com a criança, mas não usa por uma questão de escolha. Fechar uma saída com tijolos e não oferecer outra não nos levará a nada diferente do que já temos: pais irresponsáveis e filhos sem preparo para lidar com a sociedade”, critica. 

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