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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

A INVEJA LÁ E VOCÊ AQUI

Participação de Alexandre Caprio em matéria publicada pelo Jornal Diário da Região, São José do Rio Preto/SP, jornalista Francine Moreno, edição de 20/01/2013.
Fonte:http://www.diarioweb.com.br/novoportal/Divirtase/Comportamento/125716,,A+inveja+la+e+voce+aqui.aspx
Comportamento
› Autoconfiança
São José do Rio Preto, 13 de Fevereiro, 2013 - 13:40
A inveja lá e você aqui

Francine Moreno

www.sxc.hu/Divulgação
“Quanto mais autoconfiante, menos a pessoa vai se importar com o invejoso”, diz psicóloga
Você acaba de comprar um carro zero quilômetro, tira uma fotografia do possante e publica em sua conta pessoal no Facebook. Na primeira ida ao supermercado, você estaciona em uma vaga concorrida e, quando volta, tem risco na porta do passageiro. Na hora, você pensa que só pode ser inveja ou olho gordo. A raiva toma conta de você e sua atitude desencadeia vários outros problemas. Neste cenário, é preciso avaliar se a culpa é realmente sua ou do outro. Independente do que aconteceu, segundo a psicologia, você precisa se responsabilizar pelos seus atos e sentimentos e investigar porque incidentes negativos acontecem em sua vida. A inveja não age - o que prejudica é a atitude que você toma. Quem se sente perseguido pela inveja alheia e culpa o outro pelos problemas geralmente é uma pessoa insegura, que costuma seguir na direção contrária às suas metas e se distrai com sentimentos inúteis.

Autoconfiança é o melhor instrumento para lidar com a inveja. “Quanto mais autoconfiante, menos a pessoa vai se importar com os ataques do invejoso. A autoconfiança vai passar por cima dos ataques, o que não significa que não possa causar desconforto”, afirma Kátia Ricardi de Abreu, psicóloga clínica e organizacional. A especialista recomenda aos “invejados” que compreendam esta dificuldade em vez de julgar. “O funcionamento da psique e sua compreensão está ao alcance de qualquer pessoa. Buscar informações sempre é bom para podermos conviver com todas as formas de inadequação e dificuldades emocionais que se manifestam no comportamento humano.”

Para Kátia, é preciso estar ciente de que é complicado se blindar da inveja alheia. “Não temos controle sobre os sentimentos de inveja do outro. Os ataques vão acontecer. Afastar-se do invejoso é uma forma de se blindar. Outra forma é não se importar com os ataques, vê-los como uma dificuldade da pessoa e não se colocar no alvo.”

O psicólogo cognitivo-comportamental Alexandre Caprio afirma que autoconfiança também dissolve o sentimento dos invejosos. “Se nos sentimos aptos a conquistar tudo o que precisamos ou queremos, não precisamos mais destruir a imagem alheia ou desejar o que o outro tem. Quando acreditamos em nós mesmos, e sentimos que temos o poder de fazer de nossas vidas o que quisermos que ela seja, não há inveja. Sobra apenas o respeito em relação ao que o outro conquistou. Esse sentimento, muito mais nobre e com grande poder de nos elevar a patamares cada vez maiores, é a outra face da inveja. Chama-se admiração.”

Terapias como a cognitivo-comportamental promovem com eficiência autoestima, habilidades e aptidões no paciente, “tornando-o livre para conquistar seus sonhos e metas ao invés de perder todo seu tempo e energia em ataques pessoais. Mas, para isso, o primeiro passo deve ser dado”. Segundo Caprio, cabe ao invejoso perceber que sua vida se reduziu a um conjunto de justificativas em relação a si mesmo e aos outros, e que o tempo de ser feliz está se esgotando. “Feliz daquele que tem esse lampejo de consciência e aceita ajuda, porque terá a oportunidade de deixar de ser a principal vítima de seus pensamentos, emoções e palavras ferinas”.

Semelhante a um ‘jogo’

O psicólogo Alexandre Caprio afirma que a autoestima é elemento-chave da inveja. “Se ela é baixa, o indivíduo pode entender que não tem as ferramentas, habilidades, dotes e oportunidades que o levem a conquistar os sonhos e desejos mais comuns de sua sociedade. Ter um videogame, comprar uma bicicleta, o carro do ano, namorar, casar, adquirir casa própria, ter filhos, absolutamente tudo pode ser alvo da inveja. Se uma mulher entende que sua felicidade depende de um bebê, e não consegue engravidar, pode invejar a outra, que conseguiu”, diz.
A inveja, de acordo com Alexandre Caprio, chega a ser parecido com um jogo, onde as pessoas se comportam como se estivessem ganhando ou perdendo pontos, à medida que avaliam sua posição em relação aos demais. “Não se escolhe sentir inveja. Se ela desperta, está relacionada à forma como nos enxergamos e como enxergamos os outros. A grama sempre parece mais verde no lado do vizinho - já dizia o ditado.”

www.sxc.hu/Divulgação
Sentimento de inveja está relacionado à forma inadequada de como nos enxergamos ou olhamos para o outro
Por que sentimos inveja?

A inveja é fruto de um sentimento de inferioridade, construído no decorrer da história de vida desde a infância. A estrutura do invejoso leva a uma dolorosa e  constante comparação com o outro. “Trata-se de uma estrutura inconsciente difícil de ser elaborada”, afirma a psicóloga clínica e organizacional Kátia Ricardi de Abreu. Nas etapas iniciais do desenvolvimento humano (primeiros seis meses de vida), a pessoa tem necessidade de dependência (da mãe). Uma vez vivenciada adequadamente esta fase, o psiquismo passa para a fase seguinte, que é o reconhecimento do outro (mãe) como alguém separado de si.

Após, de acordo com a psicóloga, aparecem sentimentos ambivalentes de amor e ódio na relação com o outro (ainda a mãe) diante da perda do controle onipotente sobre o outro, experimentado na fase de dependência absoluta (primeiros seis meses). “O ódio poderá ser substituído  pelo amor apenas quando o bebê experimentou o amor incondicional da mãe, dando-lhe segurança de sua existência e da consistência de seu eu. Esta certeza de ser amado faz com que a pessoa não tenha necessidade de ‘atacar’ o outro e os objetos que o representam”, revela Kátia.

Mas quando esta relação mãe-filho não foi saudável nesta fase de desenvolvimento, a pessoa tem a sensação de que nada lhe pertence, o mundo lhe é insuficiente e inadequado. “Adequado é o objeto que o outro possui. Tudo o que o outro tem é melhor, mais fácil, mais bonito, mais tudo. Nada do que ele tem o satisfaz e tudo o que ele tem parece menos e menor. Esta estrutura psíquica dolorosa e incômoda torna o invejoso uma pessoa de difícil convivência social. O ódio inconsciente aguçado leva o invejoso a atacar constantemente o outro. E sua postura é crítica e cheia de agressividade”, afirma a psicóloga.