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quarta-feira, 11 de julho de 2012

PAIS SUPERPROTETORES ENFRAQUECEM OS FILHOS

Fonte: participação de Alexandre Caprio em matéria publicada pelo Jornal on line Sudeste Hoje (Diápolis/Tocantins), em 07/07/2012 
http://www.sudestehoje.com/index.php?option=com_content&view=article&id=2993&catid=120&Itemid=103#.T_2MYyg9CBY.facebook

Foto: Hamilton Pavam
Mães, especialmente algumas de primeira viagem, costumam superproteger seus filhos. O instinto natural faz com que elas cuidem dos pequenos, colocando-os numa “bolha” ou “redoma de vidro”. O problema é que o excesso de atenção pode causar atraso no desenvolvimento deles e problemas emocionais como insegurança e dificuldade para fazer amigos. O correto, segundo especialistas, é ter cuidados, mas estimular a independência da criança por faixa etária.
Da Redação

Mas como deixar os filhos livres diante de tanta violência na rua? Diante desta sensação de um mundo cada vez mais perigoso, como não se encaixar neste perfil de pais superprotetores? Especialistas alertam que há perigo em todos os lugares e principalmente em casa. De acordo com a ONG Criança Segura, pesquisas mostram que uma das principais causas de hospitalizações são acidentes caseiros. Neste caso, ninguém está pedindo para você tentar deixar de lado a violência atual, mas sim orientar sobre os riscos de maneira geral.

Pais precisam deixar de lado a culpa e o medo de errar na hora de educar. A criança precisa ter autonomia e isso requer prática, paciência e ousadia. Antes disso, os pais precisam vencer os próprios medos. Se a criança caiu enquanto corria e o pai ou a mãe não estava por perto, saiba que isso é totalmente normal e necessário. Deixá-los cair faz parte do aprendizado e das boas lembranças da infância. É importante ter história de um dedo ralado para contar.

É preciso que as crianças tenham o mesmo tipo de liberdade que os pais tiveram quando criança e deixar que elas digam “eu mesmo fiz, sem ajuda do papai ou da mamãe”. É preciso não limitar a vida delas, mas alertá-las, por exemplo, sobre o trânsito, caso as crianças estejam em tempo de andar de bicicleta, ou informar sobre o perigo de falar com alguém desconhecido, quando estiverem em uma praça ou um clube. Ao orientar, você insere seu filho na geração de crianças realistas e alertas.

Hugo Ramón Barbosa Oddone, psicólogo e gestalt-terapeuta, afirma que a criança precisa manter contato com o ambiente natural e com outras pessoas. Principalmente hoje em dia, em que ela vive em cubículos de concreto, com pouquíssimo ou nenhum contato com a natureza, plantas, animais, outras crianças e seus processos vitais. “Muitas crianças conhecem a natureza pela mídia, internet, brinquedos de plástico e eletrônicos. Acabam achando que o leite vem da geladeira.”

Brincar é tão necessário para os filhos quanto dormir, alimentar-se e ser alfabetizado. É por meio das brincadeiras que a criança se realiza, cresce e regride, vive, sofre e resolve seus dramas, repete velhos roteiros e cria novos enredos, gasta e renova suas energias”, diz Oddone.

Todo pai deve garantir para os filhos o direito a brincar, um tempo e um espaço lúdico e, obviamente, colocar-se como parceiros para a brincadeira. “Os filhos vão agradecer e engrenar muito mais saudavelmente nos modelos de relacionamento propostos”, diz.

A criança precisa até mesmo chorar. “Conhecer a dor é, em geral, extremamente saudável para a saúde física e mental. Deixar a criança chorar é, na maioria dos casos, um bom treino para elas aprenderem a lidar melhor com a frustração e elevar essa capacidade”, diz.

Para ele, educar é saber dar o devido reconhecimento à beleza de ser e existir, é incentivar a criança a assumir os desafios e as contradições inerentes à existência humana, mantendo sempre o respeito pela existência e a diferença alheias.

Rogério Leandro Vieira Lopes, 37 anos, é um pai que encoraja seu filhos a brincar. Sempre que possível, os gêmeos Bárbara e Lucas Estrela Lopes, 8 anos, têm contato com terra. Com natureza. “Acredito que a superproteção acaba prejudicando o desenvolvimento dos meus filhos. Pais que não deixam os filhos terem seu espaço acabam privando-os de algumas situações e frustrações.

Vivenciá-las hoje fará com que sejam adultos mais preparados para encarar a sociedade, o mercado de trabalho.” Rogério conta com o auxílio da esposa Elizandra Lopes na busca do equilíbrio entre proteger e dar liberdade às crianças. “Conseguimos isso por meio do diálogo.”


Criança precisa aprender a ter limites

Quem superprotege demais tem dificuldade em falar não. E isso é ruim. Segundo o psicólogo Alexandre Caprio, as consequências podem ser sérias. “Todos nós estamos em um processo constante de aprendizagem. Mas nas crianças, esse processo é mais intenso. Ela aprende, por meio dos pais, a compreender os limites e regras que temos na nossa sociedade e até mesmo de nosso poder aquisitivo.”

Não tendo limites dentro de casa, a criança não respeitará também os limites que existem fora dela. “Não aprenderá a respeitar, por exemplo, o direito do colega ao lado ou manter-se disciplinada em sala de aula. Quando adulto, pode tornar-se egoísta, impertinente e tido como chato. Pessoas assim não conseguem trabalhar em grupo de forma harmoniosa. Por conseguinte, acabam tendo menos oportunidades profissionais e menos contatos sociais”, afirma Caprio.

Cabe aos pais reproduzir dentro de casa os limites que a criança encontrará em sua vida futura. “Apenas conhecendo e respeitando tais limites o indivíduo pode tornar-se um ser social, sabendo respeitar o espaço alheio e conquistando a aceitação que trará o devido merecimento e destaque”, diz.

A criança deve aprender por tentativa e erro. A mãe não pode querer vivenciar tudo pelo filho. “São as nossas crianças que vão ter de atravessar a distância entre o ponto A e o ponto B da experiência. Precisamos deixá-las vivenciar esses passos da forma que achem que devem fazê-lo. É a única forma que nossos filhos têm de aprender a autonomia. Ou seja, aprender fazendo, vivenciando, experienciando, e para isso, quanto mais cedo, melhor”, afirma o psicólogo Hugo Ramón Barbosa Oddone.

Há um tipo de autonomia importante com um ano de idade, por exemplo, quando eles estão aprendendo a caminhar, e outro, quando eles têm de prestar vestibular e morar em outra cidade. “São os nossos filhos que vão ter de tropeçar e cair nesta trilha para aprender a caminhar. Neste sentido, mais importante do que a dor da queda é a sensação de vitória de ter tentado, dado o melhor de si nessa situação. O que eles precisam é da nossa torcida, da nossa confiança irrestrita e incondicional”, diz Oddone.
Fonte: Francine Moreno/Diário WEB

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